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  • Foto do escritorGabi

Sobre fins

Por que não sabemos dar fim as coisas?


Os fins são sempre difíceis, né. Parece que terminar algo é obrigatoriamente doloroso.


Ok, significa o fim de um ciclo, dar um passo em direção ao desconhecido mundo pós-fim, luto.


Mas por que será que é TÃO difícil?


Tenho minhas reflexões sobre essa questão.


A gente se acostuma a achar que as coisas são normais, que é assim que funciona e pronto, mas basta a gente olhar pro lado, para outras culturas, países, ou até outras pessoas, que logo percebemos que não necessariamente o fim de algum coisa tem que significar sofrimento, choro, ficar deitado na cama em posição fetal e tudo o mais.


Um dia a diretora de uma companhia que eu trabalhava disse que a gente tem necessidade de estragar as coisas para conseguir sair. Quando eu digo coisas, eu quero dizer relações humanas, pode ser casamento, namoro, amizade, mas também um trabalho, enfim, qualquer coisa com a qual se estabeleça um laço. Enfim, essa frase que ela disse fez um sentido tão grande pra mim, daquelas coisas que nos despertam algo por dentro que nos fazem repensar nossas atitudes dali por diante, sabe? E desde então eu tenho prestado muita atenção nos meus fins e espalhado esse ideia pra muita gente.


Claro que nunca iremos dar fim a uma relação se estão todos felizes, se ela está no ápice da existência, mas será que é realmente necessário que a gente deixe as coisas ficarem completamente péssimas, insustentáveis até, pra enfim terminá-las? Parece que esse é o caminho mais comum.


Vamos pensar em um relacionamento amoroso. Começa naquela paixão, tudo lindo maravilhoso. Aí tem a fase mais branda, mais madura, o amor. Que também é lindo, conhecer a pessoa e desejar uma vida com ela.


Aí algo começa a broxar. Você sente isso. Mas você não sabe muito o que fazer, pq afinal até pouco tempo atrás estava tudo bem. O fato é que muitas vezes as coisas vão se transformando sutilmente e quando você se dá conta já tá naquela fase que a forma como a pessoa respira te irrita. Até aí nada grave que justificasse um afastamento aconteceu. Mas é possível que você não queira mais estar em uma relacionamento com ela. E aí? Você termina? Não, não. Você começa a cagar o rolê. No início é coisa leve. Se distancia, de vez em quando dá uns cortes meio desnecessários. Uma incômoda sensação de estar empurrando algo com a barriga começa a se apoderar de você. Pode ser até que você tente conversar com ela sobre como está se sentindo (isso se você for uma pessoa analisada, com algum autoconhecimento).


Mas realmente cair fora envolve tanta coisa que você não faz isso. Ao invés de finalizar quando você percebe que não quer mais, enquanto as coisas ainda são pacíficas, você começa, quase sem querer, a tratar a pessoa mal. Você é infiel. Você mente. Você começa a quebrar os acordos tácitos e também os explícitos que existiam entre vocês. Pronto, você agora tem (e deu ao outro!) um motivo concreto e palpável para acabar com aquela relação! O simples e puro "não estar mais a fim" não é suficiente. Parece pouco, mudar de opinião ou de gosto.


Não estar mais satisfeito com um trabalho mas ao invés de assumir isso e finalizar de forma digna um ciclo, de repente você começa a não conseguir acordar cedo com tanta facilidade e os atrasos se tornam frequentes. Seu trabalho começa a perder a qualidade. Talvez você espere que algum supervisor ou colega te aponte seu rendimento caindo, ou te critique. Talvez você queira um fator externo que conclua aquela situação por você, porque o simples fato de você não querer mais não soa digno de uma tomada de decisão.


Deu pra reconhecer? Eu particularmente vejo esse tipo de situação acontecendo o tempo todo, em diferentes tipos de relação.

A gente percebe que não quer mais aquela situação para a nossa vida mas algo faz com que a gente não consiga simplesmente ir embora quando temos essa percepção. Esse algo não é fácil de entender, do contrário a gente não sairia fazendo merda, mas eu acho que passa principalmente por medo.


Medo é o sentimento humano que é base para uma boa porcentagem das nossas dificuldades. Mas isso fica para um próximo texto.


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